A vida está passando.
E quando eu digo passando, não me refiro exatamente ao tempo ou aos dias e sim, ao fato de que as coisas têm acontecido, pessoas têm partido e tantas outras têm ficado, as vezes, completamente sem sentido de existir em outras vidas.
As vidas estão passando e os corações cada vez mais despedaçados, cheios de outros pedaços grudados de corações partidos que ficaram lá atrás, numa história distante.
E como são reconfortantes esses pedaços de coração né? Nenhum deles foi teu de verdade, mas tapam os buracos, os rombos no peito que aquele coração deixou.
E daí as lembranças invadem a mente e escorrem pelos olhos. Como é bom lembrar o passado, reviver aquele abraço apertado ou aquele beijo que só existiu dentro da cebeça fantasiosa.
Ao que parece, essa nostalgia precede um dos momentos mais doloridos pelos quais já passei, que é aquela faxina das boas no coração. É como tirar vários pedaços de chiclete grudados debaixo do banco. Você vem com uma espátula e, um a um, cuidadosamente vai tirando chiclete por chiclete, coraçâo por coração debaixo do banco. Uns saem fácil, outros arrancam uma lasca de tinta e a levam embora. O banco nunca mais será o mesmo.
Estou na fase de arrancar corações-chiclete que ficaram grudados no meu banco. Eles ocupam espaço, são desconfortáveis e sem nenhuma utilidade.
Hoje arranquei um chicletão daqui. Achei que ele fosse morrer comigo, mas não. Demorou pra sair e levou com ele uma lasca gigante do meu coração. Sei que agora meu coração-banco não será mais o mesmo. Inclusive acho que, muito provavelmente, nenhum outro chiclete será mais grudado por aqui.
Mas as lembranças ficarão. Todas elas servem pra me mostrar o quão feliz eu sou hoje, e o quanto meu coração está leve, prontinho pra uma reforma daquelas pra receber, quem sabe, um novo amor.