quarta-feira, abril 30, 2008

TORMENTA

Tem os olhos negros marejados.
As mãos escondem o rosto, deixando o corpo despido mostrar-se.
Sente a dor física das palavras cortarem a pele, abrindo feridas outrora cicatrizadas.
Lembra da infância negligenciada, da juventude omissa.
Permanece muda enquanto a língua sangra a alma, feito navalha cravada na carne.
E quando os olhos criam coragem para fitar aqueles verdes e raivosos, prefere entregar-se a tortura da morte, afogando-se lentamente nas lágrimas choradas do passado.
Como se lutar não valesse a pena, desiste.
E nua, sob o olhar de esmeralda, adormece.

...

frustração é meu segundo nome.
e nada mais por hora.

sexta-feira, abril 25, 2008

TEUS OLHOS

Se estou mais feliz hoje, a culpa é daquela foto.
Que me deixou mais bela.
E eu diria sem sombra de dúvidas, que foram esses teus olhos, meu bem, que ao me verem daquele jeito, me trouxeram um outro sorriso.
E é esse sorriso que levarei comigo.
O sorriso que teus olhos não podem ver, mas puderam causar.

terça-feira, abril 22, 2008

DESABAFO

Eu te amo calada.
Não me perguntes o porque.
Os que me conhecem diriam que endoideci, que não estou em mim.
E de fato não estou.
Estou em nós.
Nos nossos beijos demorados, e no toque da tua mão na minha pele.
Nas fotografias, nas dúvidas e respostas.
Estou nesse bem-querer que me toma o peito cada vez que te escuto falar.
Mas eu me calo. Não consigo te olhar nos olhos e dizer de verdade o que tu me provocas.
Esse furor de sentimentos indefinidos que brotam seguros em desenvolver-se.
O fato, garoto, é que eu te amo.
Não só pelo que você é, mas pelo que estas me ensinando a ser.

segunda-feira, abril 21, 2008

AQUELE MAR

Não sei se te peço muito, se te exijo muito, não sei.
Sinto-me como um barco a navegar em águas profundas, sem cais.
Eu só queria um porto pra atracar.
Aquela segurança que se tem de que, depois da tempestade, é certo que a calmaria virá.
Mas talvez não seja hora de eu descobrir o meu, o teu porto.
Quem sabe esse seja o momento de navegar às escuras, torcendo pra que você me apareça feito farol, ilumindando o que eu devo desviar.
Ou quem sabe essa seja a hora de soltar âncora e partir, para o horizonte, distante, onde nem a ti, nem a ninguém eu vá encontar.
Eu só queria que tu te comportasses como meu norte.
Não que eu queira que tu sejas meu objetivo final.
Com todas as cartas marítimas que recebi, estou certa de que não devo confiar minha rota à nenhum outro capitão que não eu mesmo.
Mas eu queria muito que teu barco seguisse junto ao meu, lado a lado, crescendo e compartilhando as argruras do trajeto.
E te confesso que meu maior medo, é me ver naufragar agora, enquanto eu torço pra que alcancemos a terra firme.
Eu só te peço, nobre marujo, que não me deixes esperando.
Que não me faças teu engano, procurando em mim outra boca, outros corpos.
Eu só te peço que, se fores meu, que o seja cem por cento, que o sejas integral.
E eu só espero, que tu verdadeiramente sejas minha ilha, onde eu aporte esse coração marejado e não ache caminhos pra voltar.

sábado, abril 19, 2008

BOA NOITE

A cama que ontem parecia pequena pra nós dois, hoje anoiteceu grande e vazia, sem você.
E eu não quero adormecer sem teu corpo ao meu lado.
Porque eu sou muito mais feliz quando, no escuro, você me abraça, me beija, e me diz boa noite.

quinta-feira, abril 17, 2008

MORENA FLOR

Tu te concentras nos pontos errados.
Desvias teus olhos dos dela e a desabraças, quando na verdade tu a deverias segurar junto a ti e encará-la.
É tudo uma questão de foco.
E te digo mais: até aqui deves ser compositor.
Se existem regras para isso?
Não, não há.
Mas certos pontos deveriam ser encarados por ti como premissas.
Não basta para ela ser rainha por duas ou três horas.
Rainhas são perenes.
Como as abelhas.
Tu deverias compreender.
E se a música te é assim tão importante, faça daquela tatuagem uma canção.
Tu te garantirias assim, exclusividade.
Não que de certa forma tu já não a tenhas toda para ti.
Acredito que tu sejas dono da maior parte daquele coração.
Mas tu te concentras nos pontos errados.
Tu deverias te fazer presente ainda quando estão distantes.
E eu te entenderia se me dissesses que é dessa maneira que preferes lidar.
Mas aquela morena já é flor desabrochada.
Se tu te mantiveres por muito distânte, perderás o melhor do perfume, e quando regressares, já não encontrarás mais no toque as pétalas.
Terão ido-se ao chão.
Tu deverias levá-la a tira-colo.
Porque enquanto tu te ausentas pela noite, os vagalumes pra ela vêm brilhar.
E se tu não te cuidares, joão-de-barro, não será na tua casa que ela irá morar.

terça-feira, abril 15, 2008

RIMAS

E agora que eu tenho você, que a luz acabe, que a voz se cale, que o mundo pare de girar.
Agora que eu tenho você, que a lua brilhe, que a chuva molhe, que o vento sopre devagar.
Agora que eu tenho você, que a imagem permaneça, que tudo o que é bonito floresça, que haja mais ondas no mar.
E agora que eu tenho você, que aqui você fique, e que tua boca grite, tudo o que eu quero escutar.

quarta-feira, abril 09, 2008

COMO

E como seria se tu não tivesses partido?
Se tivesses optado ficar comigo?
Afagarias meu cabelo todas as noites, antes de dormir?
Me protegerias dos pesadelos, com teus abraços?

E se ela não tivesse te olhado?
Se tu não a tivesses correspondido?
Trarias pra casa as marcas no colarinho?
Te misturarias àquelas pernas, me esquecendo?

E se tu tivesses cumprido o que jurastes?
Se não tivesses dado ouvidos ao teu coração?
Me colocaria sobre tua mesa numa foto?
Me porias ao alcance daquelas doces nuvens de algodão?

E se tu não tivesses partido, teria eu um herói pra me salvar do perigo?
Teria eu perdido minha pureza aos cinco?
Teria eu esse rombo no peito, tão dolorido?
Heim, pai?

segunda-feira, abril 07, 2008

INTERLÚDIO

Eu sei, eu sei que não acabou.
Adormeceu apenas, aquietou-se no teu peito, e ali ficará.
Passarão pessoas, tempos e tormentas.
E tudo continuará ali, adormecido.
Não a terás nunca mais.
E eu, quem sabe, também nunca mais o veja depois de hoje.
Poderão dizer que é tudo banalidade, loucura, talvez.
Mas eu sei que não é.
A verdade é que não estou acostumada às tuas gentilezas.
Não posso acostumar-me com isso.
E não estou dizendo, nem de longe, que me queres ao teu lado.
Também não sei se te quero ao meu.
Mas nunca ninguém tinha me tratado assim antes.
Saí daí pensando que se um dia eu fosse buscar alguém para dividir minha vida, esse alguém poderia se parecer contigo.
Não posso afirmar que estou feliz porque tu te recuperas bem, afinal, eu nem sei como tu eras antes disso tudo.
E agora, possívelmente, depois que voltares à vida, não precisarás da minha companhia e nem das minhas carícias.
O que me faz garantir que levarás algo de mim em ti, além do que compraste, é tua cozinha bem organizada e a louça lavada.
E o que eu levarei de ti, além dos teus vinténs?
Ainda não sei precisar ao certo. Não sei mensurar, nem nomear.
Mas já é algo. Que vai além de posições e fluidos.
E te devo confessar: tu me farás falta, e também ficarás aqui, adormecido.