domingo, maio 29, 2011

Soledad

A gente fala de solidão sem realmente saber o que é. O peito dói e a gente diz que é saudade, que é amor, que é fraqueza. Mas a dor da solidão é tão diferente que no momento em que se sente, a certeza é clara como água de nascente. A solidão dói nas entranhas. Nas juntas de todo o corpo, na nuca, na barriga, nas costas, cabeça e coração. Dói nas mãos, que ficam vazias, nos pés que não sabem pra onde ir, nos ombros que não têm mais o peso dos braços debruçados. Dói nos olhos, que vêem em volta uma multidão de rostos desconhecidos, que procura algum tipo de alento e que só vê o vazio. A solidão dói na consciência, de que é preciso ser uma pessoa melhor para que se tenha companhia. Para que seus amigos lembrem de você e façam questão de te ter por perto, mesmo que seja para não fazer nada. A solidão dói na alma. E essa dor não da pra explicar. Parece um buraco negro que te suga as forças, parece pesadelo sem fim. E é bem nessa hora que a dor entra no ciclo mais cruel de todos: a hora em que se precisa de um abraço sincero, de um afago, de um carinho, e não se tem ninguém. Não falo aqui de amores exclusivamente, falo de amigos, de família. É um ciclo muito, muito cruel, porque é na tristeza que se sabe realmente quando se está sozinho. É olhar para o lado e ver quantas pessoas lembraram de você hoje, quantas pessoas fizeram questão de ter sua companhia, quantas pessoas quiseram estar ao seu lado pelo simples prazer de estar. É a hora que se sabe entender a dor da solidão: é estar sozinho de verdade, na escuridão do coração.

domingo, maio 22, 2011

Pra terminar ele diz:

"Você só me decepcionou, desde o começo. Ela não, ela mereceu que eu escrevesse aquelas palavras lindas. Com ela foi tudo diferente. Você acha que você merecia? Se você tem inveja dela, o problema é seu."

Depois de fechar a porta começou a juntar os caquinhos do coração.
E está lá, juntando-os até agora.

terça-feira, maio 17, 2011

Indiferença

De tudo o que dói, a indiferença é a que dói mais.
Mais que chute na canela, cortar a mão com papel, prender o dedo na porta.
Eu esperava alguma reação, um xingamento que fosse, uma frase sofrida dizendo que estava decepcionado, que não tinha mais jeito, mas ao contrário; toda vez que vou lá encontro o vazio estático do mês retrasado.

O curioso é que há algum tempo, o que se via eram relatos que expunham minhas feridas e imperfeições, como se fosse prazeroso ver a deficiência alheia vir a público. E agora nada.

Antigamente, exitia a tentativa de retomar com outrém uma vida harmonica e cheia de paixão, e por essa razão, escrevia-se coisas lindas sobre como ela era perfeita, sobre como a vida com ela era boa e tinha tudo para dar certo. "Foi minha última tentativa", dizia.

Eu não ganhei nada disso. Ao contrário: de coisas boas só sobraram as memórias mesmo, porque relatos, pra que né? Ninguém precisa saber que eu tenho coisas boas, só as ruins merecem ser jogadas ao vento para se espalharem por aí.

E enquanto eu venho aqui melindrar e chorar a tristeza do meu peito, tenho que lidar com a indiferença, com o não fazer questão, com o passado com ela exposto da forma mais linda, e o passado comigo inundado de rancor e desprezo.

E eu não sei porque ainda me preocupo.
Deve ser a vontade de ser melhor e não conseguir.
Deve ser a frustração de querer ser o que não se pode ser.
Deve ser a inveja velada que eu tenho do amor que não pude ter.

E as lagrimas escorrem sem medo.