sábado, março 05, 2011

Afasia

Pisca os olhos devagar.
As lagrimas escorrem pelo rosto pálido, criando caminhos invisíveis de dor e de lamento.
No peito, o grito sufocado arde.
Na mente, a razão tão clara, tão óbvia, não consegue se explicar.
Sente vontade de correr numa longa e infinita estrada. Até os pés sangrarem. Até a dor tingir de rubro todo o caminho turvo pelo qual esteve.
Sente os lábios costurados. A garganta cortada. As mãos atadas.
Move-se com dificuldade em meio ao lamaçal todo em que está enfiada sua vida.
E cada vez que se move, afunda um pouco mais.
E cada vez que tenta se pronunciar sente dezenas de mãos apertando-lhe o pescoço, na tentativa de impedi-la.
Sente-se cortada ao meio, pelo amor e o desespero.
Confunde-se com o passado. Vê-se girando numa espiral sem fim, como um furacão que leva seu corpo e estraçalha todos os seus ossos.
Enfia-se no fundo de uma caixa para sentir-se protegida. Para sentir-se segura.
Controla o medo do escuro, respira fundo e ali permanece.
Não sabe se é melhor enfrentar sozinha seus medos ou se perder.

Um comentário:

Nico disse...

Oi fabi,

obrigado pelo comentário, viu? Fico muito feliz que tenham gostado do miniconto.

Fico atento agora no seu blog tb, muito bacana, até logo.

beijo
Nico