Na verdade os caminhos que me levariam ao 42 é que estão meio bagunçados, acho que foi isso o que tentei dizer.
Quase não dá pra perceber o quanto eu ando confusa né? E ultimamente algumas pessoas têm me perguntado muito sobre o que vem acontecendo, já que minha cara não me ajuda a tentar disfarçar esse emaranhado de coisas daqui de dentro da cabeça.
E não é só minha cara que tem refletido essa algazarra: se alguém entrar hoje na minha casa definitivamente terá uma sincope nervosa. Minha mãe se descabelaria e bradaria ao sete ventos que não criou uma filha pra viver numa casa tão bagunçada.
Mas confesso que o que me fez perceber que a coisa não anda muito bem aqui dentro da cabeça, por mais ridículo que pareça, foi uma propaganda de supermercado.
Fui ao cinema hoje e chorei assistindo a propaganda do menino que mora no exterior e não poderia vir ao Brasil para passar o natal com a família. Os amigos gringos fizeram uma vaquinha e lhe compraram as passagens, e ele voou para os braços de mamãe. Foi lindo, comovente e constrangedor, uma vez que as luzes da sala ainda estavam acesas e várias pessoas estavam sentadas próximas a mim. Eu estava sozinha, poderia fingir que não conhecia ninguém. É, na verdade eu não conhecia mesmo, não precisei fingir.
Mas enfim, fui ao cinema disposta a assistir "La Piel que Habito" e para minha surpresa o filme já havia saído de cartaz. Fiquei bem desapontada; queria chegar no trabalho no dia seguinte e comentar com uma amiga sobre o roteiro, a fotografia e atuação do Banderas.
Fiquei em dúvida entre os Muppets e O Palhaço, e optei pelo segundo. "Vamos prestigiar o cinema nacional, que anda precisando", pensei. Quando o filme começou me toquei que, muito provavelmente, o que me levou a escolher esse filme não foi o prestigio pelo cinema nacional e sim alguns fatos recentes e desconexos que andaram confundindo um pouco mais minha cabeça.
E que escolha feliz foi essa minha. Nunca agradeci tanto minha confusão mental quanto hoje. Não só pelo lindo trabalho do Selton Mello como ator/diretor/roteirista, nem pelo Paulo José, que amo de paixão, nem pela fotografia linda, terna e nostálgica. Mas por uma frase solta, ali no meio da história, que fez com que tudo terminasse bem e todos fossem felizes para sempre.
"O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou palhaço"
Coisa linda de deus! Banal, pode dizer, mas lindo, profundo, apocalíptico eu diria.
Sai do filme pensando nisso. Na relação do gato, do rato, dos seus "destinos", do que são programados a fazer, condicionados a fazer, adestrados a fazer, estereotipados a fazer e do que realmente gostam de fazer.
Demorei um tempo até entender como seria a minha frase.
Eu poderia substituir "palhaço" por "produtora", "jornalista", "fotógrafa", "professora", mas nenhuma dessas palavras deixaria a frase 100% aplicável a mim.
E depois de repensar a vida, como nessas coisas de filme mesmo, conclui eu deveria substituir "e eu sou palhaço por "e eu amo".
Piegas, brega, coloque o adjetivo que quiser. Mas essa é minha relação com o destino, com o que está programado, com o que estou condicionada, adestrada, estereotipada a fazer. É o que me descreve, o que me molda; é o que me trouxe até aqui.
Se hoje estou na minha casa, numa cidade alucinada, longe da minha família, dos meus amigos, foi porque amei. Amei um sonho, amei uma mentira, amei um desejo de liberdade e de independência. E continuo amando; minha liberdade, minhas oportunidades, o que está por vir.
Fiquei menos confusa quando descobri minha frase. Acho que isso diz muito sobre os caminhos que vou trilhar até chegar ao meu 42.
"O gato bebe leite, o rato come queijo e eu amo".
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