quarta-feira, janeiro 23, 2013

E se?

Já era tarde da noite. Beatriz entrou meio esbaforida num café de esquina e pediu um café grande, com um pouco de conhaque. Esfregava as mãos umas na outras, ora por frio, ora por nervoso.
Enfiou uma das mãos dentro do casaco preto e tirou do bolso o celular que piscava. Pedro enviara uma mensagem avisando que se atrasaria.
"Que ironia, heim?", pensou um pouco alto demais, fazendo com que o senhor da mesa ao lado a encarasse. Pedro nunca se atrasava pra nada. Nada mesmo.
Foram só alguns minutos até ele entrar pela porta, meio atrapalhado, tirando as luvas e passando a mão na barba. Não a reconheceu de imediato. Estava bem mais magra, quase tão magra quanto no dia em que se conheceram e a cor dos cabelos estava mais clara.
Se abraçaram demoradamente e Bia pode sentir que ele realmente estava feliz em revê-la.
Olhou pra ele meio sem graça e, com um sorriso besta no canto da boca disse:
"- Oi pra você também!"
Eles riram e se sentaram. Ficaram alguns minutos quietos, apenas olhando um pro outro, meio constrangidos, meio eufóricos.
O café chegou, quebrando um pouco a tensão, mas não adiantou muito. Completamente sem pensar ela abre a boca e diz:
"- E se tivesse dado certo, heim?"
Ele arregalou os olhos, sem ação: "Não sei, Bia, não sei mesmo".
"- Eu falo sério, Pedro. E se tivesse dado certo?"
"- Não sei te responder. Provavelmente já teríamos mudado daquele apartamento minúsculo. Você já ganharia de mim no videogame, eu não teria aprendido a cozinhar, mas ficaria olhando pra você ali, cozinhando, como sempre. Já teríamos feito outras viagens internacionais e seriam sempre as nossas primeiras viagens para qualquer lugar", disse ele, reticente.
"- Teríamos casado?"
"- Não, isso com certeza não. Só entendi esse lance de casamento depois que nos separamos. Naquela época eu batia o pé. Esquece o casamento."
"- É...tem coisas que a gente só entende depois do SE, né?", ela coçou os olhos pra disfarçar a frustração.
"- É. E se tivesse dado certo, heim Bia?"
"- Pois é, não sei. Acho que você já estaria pintando melhor que eu. Você era bom nisso. Quem sabe eu tivesse aprendido a ser mais calma, controlada, sei lá. Não, não, isso eu já aprendi. Isso veio com o fim mesmo. Se tivesse dado certo acho que eu ainda seria do mesmo jeito."
"- Será?"
"- Olha Pedro, sinceramente, não sei. O que eu sei é que se tivesse dado certo nós seriamos felizes. A forma com que essa felicidade seria executada não tem como prever né?"
"- É, você tem razão. Mas sabe? Eu sou feliz hoje também. Tenho outra pessoa, uma mulher incrível, que me faz bem, com quem eu pretendo fazer meu futuro."
"- Vocês vão se casar?"
"- Não sei, Bia, não sei mesmo."
"- É, não sei já é melhor do que 'com certeza não'..."
"- Nos seus termos sim. Nos dela, acho que não. Enfim..."
Fizeram uma longa pausa. Não contaram os minutos, ou horas, mas ficaram um tempo considerável em seus celulares tentando se distrair.
"- Eu tô feliz também, sabe Pedro? De verdade. Finalmente encontrei alguém que me aceita. Não me cobra, me acompanha em tudo. E é pintor também, o que facilita muito as coisas, sabe?"
"- É...você já tinha me falado esses tempos atrás. Fico feliz que você esteja feliz."
"- Eu sei que fica. Obrigada por isso."
"- Bom, acho que preciso ir. Tenho um compromisso agora. Disse ele já se levantando."
"- É eu também preciso ir. Mas que bom te ver. Estava com saudade."
"- Também tava."
Não sabiam se se abraçavam ou simplesmente apertavam as mãos e iam embora e optaram pela segunda opção.
Ainda na porta ela o avistou do outro lado da rua, a esperando.
"Que foi?", gritou ela. Ele, entrando em um taxi, gritou de volta: "você sempre vai ser a realização dos meus sonhos. A lembrança e a certeza de que a vida pode ser mágica".
Hoje, ambos são apenas lembranças bonitas, quentes e tranquilas na mente um do outro.


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