segunda-feira, abril 07, 2008

INTERLÚDIO

Eu sei, eu sei que não acabou.
Adormeceu apenas, aquietou-se no teu peito, e ali ficará.
Passarão pessoas, tempos e tormentas.
E tudo continuará ali, adormecido.
Não a terás nunca mais.
E eu, quem sabe, também nunca mais o veja depois de hoje.
Poderão dizer que é tudo banalidade, loucura, talvez.
Mas eu sei que não é.
A verdade é que não estou acostumada às tuas gentilezas.
Não posso acostumar-me com isso.
E não estou dizendo, nem de longe, que me queres ao teu lado.
Também não sei se te quero ao meu.
Mas nunca ninguém tinha me tratado assim antes.
Saí daí pensando que se um dia eu fosse buscar alguém para dividir minha vida, esse alguém poderia se parecer contigo.
Não posso afirmar que estou feliz porque tu te recuperas bem, afinal, eu nem sei como tu eras antes disso tudo.
E agora, possívelmente, depois que voltares à vida, não precisarás da minha companhia e nem das minhas carícias.
O que me faz garantir que levarás algo de mim em ti, além do que compraste, é tua cozinha bem organizada e a louça lavada.
E o que eu levarei de ti, além dos teus vinténs?
Ainda não sei precisar ao certo. Não sei mensurar, nem nomear.
Mas já é algo. Que vai além de posições e fluidos.
E te devo confessar: tu me farás falta, e também ficarás aqui, adormecido.

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