46 do segundo tempo e lá vem uma substituição.
Sim, eu sei, ninguém é insubstituível.
Mas é estranho substituir uma história por outra.
É estranho ver que os passos outrora percorridos, da mesma maneira são ocupados por outros pés ao lado dos daqueles que há muito me acompanharam.
Eu não sei explicar. É banal dar abertura para esse tipo de sentimento, afinal, o tempo passa, para todos nós.
Mas ser substituída dói.
Encostada, adormecida, ainda vai.
Mas substituída?
Com coisas importantes jogadas ao léu, esquecidas, encaixotadas, deletadas.
Não sei se é porque eu tenho alguns conceitos diferentes sobre histórias já vividas, lembranças e tudo mais.
Não sei substituir as coisas. Cada uma tem o seu valor e importância. Sua particularidade.
É estranho. Mas quem é normal, né?
Não seria normal se todos pensassem e agissem feito eu.
Mas ainda sim, não entendo o porque de tudo isso.
Não entendo o porque dessa questão toda em me dissipar.
Quem sabe eu tenha sido má, né?
Quem sabe eu tenha sido muito má.
Mas eu ainda não entendo.
terça-feira, dezembro 16, 2008
quinta-feira, dezembro 04, 2008
Ao ninar-me em teus braços e afagar-me os cabelos
Ao olhar-me nos olhos e respirar em sossego
Ao fazer de mim parte sua, ao fazer de ti parte minha
Ao preocupar-se, ao procurar-me
A tudo isso faz-me sentir viva, respirante.
É como estar de volta à superficie, aliviada.
Respiramos o mesmo ar novamente.
Dividimo-nos, juntamo-nos.
Vivemos.
Ao olhar-me nos olhos e respirar em sossego
Ao fazer de mim parte sua, ao fazer de ti parte minha
Ao preocupar-se, ao procurar-me
A tudo isso faz-me sentir viva, respirante.
É como estar de volta à superficie, aliviada.
Respiramos o mesmo ar novamente.
Dividimo-nos, juntamo-nos.
Vivemos.
sexta-feira, novembro 28, 2008
TIC-TAC
Certa vez me disseram que o tempo, a seu tempo, resolveria tudo.
Era apenas uma questão de tempo e paciência.
O tempo passou, vem passando, vai passar, e eu ainda espero.
Há tempos espero o tempo ter tempo pra resolver.
Mas ele não resolve.
O fato é que o tempo não tem tempo pra ter tempo.
Mas eu espero.
Era apenas uma questão de tempo e paciência.
O tempo passou, vem passando, vai passar, e eu ainda espero.
Há tempos espero o tempo ter tempo pra resolver.
Mas ele não resolve.
O fato é que o tempo não tem tempo pra ter tempo.
Mas eu espero.
terça-feira, novembro 18, 2008
AVALANCHE 2
Depois de cinco meses já não nos misturamos mais como antes.
As culpas são outras. Ainda existem, mas são outras.
Os encontros são quase diários.
Os cigarros são imutáveis.
Mas o palpitar no peito ainda permanece.
E agora há a saudade. Essa sim é uma constante.
E além dela, há também sentimento.
Bem mais forte, bem mais concreto.
E há a vontade e a esperança.
Ah...a vontade!
Há esperança!
As culpas são outras. Ainda existem, mas são outras.
Os encontros são quase diários.
Os cigarros são imutáveis.
Mas o palpitar no peito ainda permanece.
E agora há a saudade. Essa sim é uma constante.
E além dela, há também sentimento.
Bem mais forte, bem mais concreto.
E há a vontade e a esperança.
Ah...a vontade!
Há esperança!
quinta-feira, novembro 13, 2008
Considerações
Ando meio atordoada.
São milhares de informações não processadas por segundo.
Eu tento, sabe? Eu tento abstrair, mas não dá.
Quanto mais eu penso, mais me embolo, mais difícil fica de arrumar uma saída.
É o que acontece quando se vive 100% das horas dos teus últimos meses obcecada por encontrar uma saída. O fato é que não há saída. Estou de mãos atadas. Dependendo de outras definições.
Faço o que posso. Faço mais do que posso. E nada se mostrou nem sequer um quinze avos útil ou eficaz.
Tenho nos poros, na transpiração, no hálito, nas unhas quebradas, a vontade de não mais medir palavras.
O desejo incontido, ou extravasado de poder andar nas ruas sem ser perseguida ou apontada.
Quero a liberdade de capturar minhas imagens, tuas imagens.
Mas por hora, mantenho-me no plano da imaginação. No mais belo "imaginando o que vai acontecer quando..."
E ainda guardo a esperança, enleada em panos alvos e longe de qualquer sujeira.
Porque se maculares minha esperança, aí sim é que nem imagens, nem sonhos, nem transipiração acontecerão. Mesmo.
São milhares de informações não processadas por segundo.
Eu tento, sabe? Eu tento abstrair, mas não dá.
Quanto mais eu penso, mais me embolo, mais difícil fica de arrumar uma saída.
É o que acontece quando se vive 100% das horas dos teus últimos meses obcecada por encontrar uma saída. O fato é que não há saída. Estou de mãos atadas. Dependendo de outras definições.
Faço o que posso. Faço mais do que posso. E nada se mostrou nem sequer um quinze avos útil ou eficaz.
Tenho nos poros, na transpiração, no hálito, nas unhas quebradas, a vontade de não mais medir palavras.
O desejo incontido, ou extravasado de poder andar nas ruas sem ser perseguida ou apontada.
Quero a liberdade de capturar minhas imagens, tuas imagens.
Mas por hora, mantenho-me no plano da imaginação. No mais belo "imaginando o que vai acontecer quando..."
E ainda guardo a esperança, enleada em panos alvos e longe de qualquer sujeira.
Porque se maculares minha esperança, aí sim é que nem imagens, nem sonhos, nem transipiração acontecerão. Mesmo.
terça-feira, setembro 23, 2008
O FIM
Continuo sem saber o que dizer.
Me faltam as palavras certas.
Tento colocar pra fora tudo isso, na ânsia de me acalmar, mas não dá.
Fica tudo aqui dentro.
Acho que não quero que ninguém saiba a dor que sinto.
A vontade que tenho de que tudo fosse diferente.
De que meus pensamentos fossem outros.
Mas não consigo controlá-los.
Pode parecer loucura. Pode parecer desculpa.
Eu simplesmente não consigo.
E vou ficando mais longe, e mais sozinha a cada minuto.
Eu só quero que tu fiques bem. comigo não me importo muito.
Quero teu sorriso no rosto todos os dias, quero tuas brincadeiras de volta.
Quero teu sucesso, tua felicidade.
Tens a vida toda pra perseguir tuas idéias. Não as deixe pra trás.
E, por mais doloroso que seja, tente entender que nada disso foi em vão.
Eu também estou perseguindo as minhas idéias.
Só que elas estão longe, lá longe de nós dois.
;~
Me faltam as palavras certas.
Tento colocar pra fora tudo isso, na ânsia de me acalmar, mas não dá.
Fica tudo aqui dentro.
Acho que não quero que ninguém saiba a dor que sinto.
A vontade que tenho de que tudo fosse diferente.
De que meus pensamentos fossem outros.
Mas não consigo controlá-los.
Pode parecer loucura. Pode parecer desculpa.
Eu simplesmente não consigo.
E vou ficando mais longe, e mais sozinha a cada minuto.
Eu só quero que tu fiques bem. comigo não me importo muito.
Quero teu sorriso no rosto todos os dias, quero tuas brincadeiras de volta.
Quero teu sucesso, tua felicidade.
Tens a vida toda pra perseguir tuas idéias. Não as deixe pra trás.
E, por mais doloroso que seja, tente entender que nada disso foi em vão.
Eu também estou perseguindo as minhas idéias.
Só que elas estão longe, lá longe de nós dois.
;~
sexta-feira, julho 04, 2008
AVALANCHE
Foi fulminante.
Alguns dias, alguns cigarros e logo após nos misturávamos, meio desajeitados.
Nos culpávamos no dia seguinte.
Nos encontrávamos em todos os outros dias.
Guardo o mesmo palpitar no peito, como que pra relembrar, diariamente, a sensação da primeira vez de ter tua boca na minha.
E sigo, como numa avalanche, me embolando nos teus braços, querendo morrer nos teus abraços, sem pensar se vai ou não ter fim.
Alguns dias, alguns cigarros e logo após nos misturávamos, meio desajeitados.
Nos culpávamos no dia seguinte.
Nos encontrávamos em todos os outros dias.
Guardo o mesmo palpitar no peito, como que pra relembrar, diariamente, a sensação da primeira vez de ter tua boca na minha.
E sigo, como numa avalanche, me embolando nos teus braços, querendo morrer nos teus abraços, sem pensar se vai ou não ter fim.
MONÓLOGO
- Tu te cobras demais!
- Eu sei, mas é meio inevitável.
- Deverias descansar essa tua cabeça. É pressão demais que fazes aí dentro. Depois cai de cama e não sabes o porquê.
- Vou entrar em férias em uma semana e meia.
- E até lá ficarás assim? Se culpando?
- Eu não me culpo, mas penso que, em algum momento, deixei faltar alguma coisa. Na verdade, estou tranqüila. Sei que fiz minha parte. Não deixei faltar nada. Mas depois de hoje, tive essa impressão.
- Já pensaste na possibilidade de ser apenas uma questão de convivência?
- Sim, já. É o que eu prefiro pensar, na verdade. Senão eu mesma confirmaria que algo ficou faltando.
- Eu, modéstia parte, acho que você não deixou nada a desejar. E digo mais. Pra uma primeira vez, tu te saíste melhor do que imaginava.
- Será? Será mesmo?
- É claro! Senão não terias recebido todos aqueles louros, convenhamos.
- É, tá. Pra uma primeira vez.
- E outra: não queria agradar todo mundo. Desagradarás muito mais do que o contrário. Tua mãe nunca te disse?
- Disse. Mas disse pra eu tentar ser a melhor, sempre.
- E você é. Você é, menina.
- Sem essa. Tá, eu posso até ser, mas não queria me sentir assim, de lado, sei lá.
- Já te disse. Convivência.
- Vou apagar a luz.
- Amanhã nos vemos quando fores pentear os cabelos.
- Eu sei, mas é meio inevitável.
- Deverias descansar essa tua cabeça. É pressão demais que fazes aí dentro. Depois cai de cama e não sabes o porquê.
- Vou entrar em férias em uma semana e meia.
- E até lá ficarás assim? Se culpando?
- Eu não me culpo, mas penso que, em algum momento, deixei faltar alguma coisa. Na verdade, estou tranqüila. Sei que fiz minha parte. Não deixei faltar nada. Mas depois de hoje, tive essa impressão.
- Já pensaste na possibilidade de ser apenas uma questão de convivência?
- Sim, já. É o que eu prefiro pensar, na verdade. Senão eu mesma confirmaria que algo ficou faltando.
- Eu, modéstia parte, acho que você não deixou nada a desejar. E digo mais. Pra uma primeira vez, tu te saíste melhor do que imaginava.
- Será? Será mesmo?
- É claro! Senão não terias recebido todos aqueles louros, convenhamos.
- É, tá. Pra uma primeira vez.
- E outra: não queria agradar todo mundo. Desagradarás muito mais do que o contrário. Tua mãe nunca te disse?
- Disse. Mas disse pra eu tentar ser a melhor, sempre.
- E você é. Você é, menina.
- Sem essa. Tá, eu posso até ser, mas não queria me sentir assim, de lado, sei lá.
- Já te disse. Convivência.
- Vou apagar a luz.
- Amanhã nos vemos quando fores pentear os cabelos.
segunda-feira, junho 23, 2008
AQUELE DIA
Se te fiz sentir ciúme, perdoa-me.
Não quero dar-te motivos.
Se te fiz desviar-te de mim, desculpa-me.
Não quero teus olhos longe dos meus.
O que aconteceu não me foi importante.
O que me importa são teus abraços, e o carinho que tens pra me dar.
E acredite, as lágrimas que derramei ao falar-te, não foram nada perto das que tu fizeste rolar com aquele teu "eu te amo".
Foram as lágrimas mais lindas que já molharam meu rosto.
Foi a declaração mais sincera que já chegou ao meu coração.
Te agradeço por mostrar-me, desse teu jeito, minha importância na tua história.
Obrigada por marcar a minha história desse jeito.
Eu te amo, meu menino!
Não quero dar-te motivos.
Se te fiz desviar-te de mim, desculpa-me.
Não quero teus olhos longe dos meus.
O que aconteceu não me foi importante.
O que me importa são teus abraços, e o carinho que tens pra me dar.
E acredite, as lágrimas que derramei ao falar-te, não foram nada perto das que tu fizeste rolar com aquele teu "eu te amo".
Foram as lágrimas mais lindas que já molharam meu rosto.
Foi a declaração mais sincera que já chegou ao meu coração.
Te agradeço por mostrar-me, desse teu jeito, minha importância na tua história.
Obrigada por marcar a minha história desse jeito.
Eu te amo, meu menino!
sexta-feira, junho 20, 2008
OUTRA VEZ
Vou repetir o texto, pra que fique bem claro, e pra que não haja nenhum mal-entendido, mesmo depois das explicações:
Eu te amo calada.
Não me perguntes o porque.
Os que me conhecem diriam que endoideci, que não estou em mim.
E de fato não estou.
Estou em nós.
Nos nossos beijos demorados, e no toque da tua mão na minha pele.
Nas fotografias, nas dúvidas e respostas.
Estou nesse bem-querer que me toma o peito cada vez que te escuto falar.
Mas eu me calo.
Não consigo te olhar nos olhos e dizer de verdade o que tu me provocas.
Esse furor de sentimentos indefinidos que brotam seguros em desenvolver-se.
O fato, garoto, é que eu te amo.
Não só pelo que você é, mas pelo que estas me ensinando a ser.
Eu te amo calada.
Não me perguntes o porque.
Os que me conhecem diriam que endoideci, que não estou em mim.
E de fato não estou.
Estou em nós.
Nos nossos beijos demorados, e no toque da tua mão na minha pele.
Nas fotografias, nas dúvidas e respostas.
Estou nesse bem-querer que me toma o peito cada vez que te escuto falar.
Mas eu me calo.
Não consigo te olhar nos olhos e dizer de verdade o que tu me provocas.
Esse furor de sentimentos indefinidos que brotam seguros em desenvolver-se.
O fato, garoto, é que eu te amo.
Não só pelo que você é, mas pelo que estas me ensinando a ser.
terça-feira, junho 17, 2008
ONTEM
Eu ontem me lembrei de você.
Mas não se engane: nada de muito novo, sentimentalmente falando.
O mesmo desprezo, o mesmo revirar no estômago ao lembrar-me do teu cheiro.
A mesma sensação de vazio ao olhar a cama.
O mesmo alívio ao pensar que nunca mais pisarás teu pés nos meus tapetes.
Lembrar-me de ti fez-me respirar prazerosamente feliz.
Fez-me amar-me um pouco mais, e preocupar-me um pouco menos.
Lembrar-me de ti me fez ter certeza de que o pior já passou.
Foi embora pra capital junto contigo e com aquele avião.
E que agora, tudo é calmaria, e que a minha vida é bem melhor assim.
Contigo longe, bem longe de mim.
Mas não se engane: nada de muito novo, sentimentalmente falando.
O mesmo desprezo, o mesmo revirar no estômago ao lembrar-me do teu cheiro.
A mesma sensação de vazio ao olhar a cama.
O mesmo alívio ao pensar que nunca mais pisarás teu pés nos meus tapetes.
Lembrar-me de ti fez-me respirar prazerosamente feliz.
Fez-me amar-me um pouco mais, e preocupar-me um pouco menos.
Lembrar-me de ti me fez ter certeza de que o pior já passou.
Foi embora pra capital junto contigo e com aquele avião.
E que agora, tudo é calmaria, e que a minha vida é bem melhor assim.
Contigo longe, bem longe de mim.
terça-feira, junho 03, 2008
domingo, junho 01, 2008
O MENINO QUE NÃO SABIA AMAR
Postava-se à janela todos os dias ao cair da noite. Os olhos fixos no horizonte.
O céu cor de fogo apagava-se lentamente no mar.
As luzes acendiam-se por toda a rua, e sobre sua cabeça acendiam-se também centenas, milhares de pontos que piscavam lá no alto, grudadas no imenso fundo breu infinito.
As ondas deslisavam baixinhas, salgando os pés dos que amavam.
Mãos entrelaçadas desfilavam, acompanhadas de sorrisos e declarações apaixonadas.
Não entendia como aquilo funcioava. Nunca conhecera alguém capaz de despertar-lhe o desejo de molhar os pés no mar, a não ser o próprio mar.
Foi nesse dia que seus olhos encontraram os dela. Escuros como o céu daquela noite.
Fitaram-se por longos minutos.
Ela cantava. Era como se só aquela voz fosse ouvida, transformando qualquer barulho em burburinho.
Pensou duas vezes antes de correr para encontrá-la. E foi.
Descalço, atravessou a rua sem desviar os olhos dela; sem deixar de seduzur-se pelo encanto daquela voz.
Quando se aproximou ela sorriu e caminhou em direção ao mar. Seguiu-a com os olhos e depois com os pés, que agora tocavam a areia.
Ensaiava algumas palavras, mas a música que saia daqueles lábios era melhor do que qualquer conversa.
E, de repente, sentiu a imensidão do sal tocar-lhe suavimente os pés. O coração disparou. Entendeu agora porque os amantes salgavam-se ao luar.
Quando deu por si, o mar cobria-lhe ate a cintura.
Chorava de felicidade. E continuava seguindo a voz daquela dos olhos cor da noite.
Sentia agora o sal na língua. Os pés não alcançavam mais o fundo. A voz começou a sumir lentamente.
Olhou para as estrelas que continuavam piscando sobre sua cabeça e deixou-se levar.
Afogou-se na imensidão e a única imagem que tinha em sua mente era a visão inebriante daqueles olhos.
A canção misturava-se ao chacoalhar das ondas sobre sua cabeça até que tudo escureceu.
E foi nesse dia que o menino que não sabia amar conheceu Iara.
(Usofruto poético e adaptação da lenda indígena A Iara.)
(Ao som de: O pescador e a Sereia - Felixbravo)
O céu cor de fogo apagava-se lentamente no mar.
As luzes acendiam-se por toda a rua, e sobre sua cabeça acendiam-se também centenas, milhares de pontos que piscavam lá no alto, grudadas no imenso fundo breu infinito.
As ondas deslisavam baixinhas, salgando os pés dos que amavam.
Mãos entrelaçadas desfilavam, acompanhadas de sorrisos e declarações apaixonadas.
Não entendia como aquilo funcioava. Nunca conhecera alguém capaz de despertar-lhe o desejo de molhar os pés no mar, a não ser o próprio mar.
Foi nesse dia que seus olhos encontraram os dela. Escuros como o céu daquela noite.
Fitaram-se por longos minutos.
Ela cantava. Era como se só aquela voz fosse ouvida, transformando qualquer barulho em burburinho.
Pensou duas vezes antes de correr para encontrá-la. E foi.
Descalço, atravessou a rua sem desviar os olhos dela; sem deixar de seduzur-se pelo encanto daquela voz.
Quando se aproximou ela sorriu e caminhou em direção ao mar. Seguiu-a com os olhos e depois com os pés, que agora tocavam a areia.
Ensaiava algumas palavras, mas a música que saia daqueles lábios era melhor do que qualquer conversa.
E, de repente, sentiu a imensidão do sal tocar-lhe suavimente os pés. O coração disparou. Entendeu agora porque os amantes salgavam-se ao luar.
Quando deu por si, o mar cobria-lhe ate a cintura.
Chorava de felicidade. E continuava seguindo a voz daquela dos olhos cor da noite.
Sentia agora o sal na língua. Os pés não alcançavam mais o fundo. A voz começou a sumir lentamente.
Olhou para as estrelas que continuavam piscando sobre sua cabeça e deixou-se levar.
Afogou-se na imensidão e a única imagem que tinha em sua mente era a visão inebriante daqueles olhos.
A canção misturava-se ao chacoalhar das ondas sobre sua cabeça até que tudo escureceu.
E foi nesse dia que o menino que não sabia amar conheceu Iara.
(Usofruto poético e adaptação da lenda indígena A Iara.)
(Ao som de: O pescador e a Sereia - Felixbravo)
sábado, maio 31, 2008
NO JANTAR
As palavras entaladas na garganta me dão nauseas.
Acho que se encostares em mim agora, vomito todas elas em ti.
Logo, não me toques.
Nem agora, nem tão cedo.
Não quero sujar-te com meus devaneios.
Também não quero que os conheça.
Este escarro de transtornos me pertence.
Me permitirei continuar assim pelas próximas horas.
Até empapá-las de saliva, e empurrá-las goela abaixo.
Depois de digeri-las, aí sim, quem sabe, te arroto o que sobrou.
Aí tu ficas livre para interpretá-las, à francesa, se quiseres.
Acho que se encostares em mim agora, vomito todas elas em ti.
Logo, não me toques.
Nem agora, nem tão cedo.
Não quero sujar-te com meus devaneios.
Também não quero que os conheça.
Este escarro de transtornos me pertence.
Me permitirei continuar assim pelas próximas horas.
Até empapá-las de saliva, e empurrá-las goela abaixo.
Depois de digeri-las, aí sim, quem sabe, te arroto o que sobrou.
Aí tu ficas livre para interpretá-las, à francesa, se quiseres.
sexta-feira, maio 30, 2008
ABSTRACT MIND
Evito fechar os olhos.
Tenho medo, falta de vontade.
Não quero pensar, nem ter que lutar contra os pensamentos.
Nem quero fazer planos.
E também não sei o que quero.
Se eu quero.
Quem eu quero eu sei.
E só.Será que só?
Não quero saber.
Tenho medo, falta de vontade.
Não quero pensar, nem ter que lutar contra os pensamentos.
Nem quero fazer planos.
E também não sei o que quero.
Se eu quero.
Quem eu quero eu sei.
E só.Será que só?
Não quero saber.
segunda-feira, maio 26, 2008
Entenda.
O que aconteceu não é o problema.
Estava mais do que na cara que, cedo ou tarde, tua boca encontraria a minha.
Era uma questão de tempo, e uma pitadinha de sorte.
O problema agora é como lidar com a falta disso.
A vontade do cheiro. O desejo do gosto. A saudade do toque.
Se fosse fácil esquecer e dizer que passou, assim o faria.
Tudo para manter a cabeça e o coração em paz.
Se deitar a cabeça no travesseiro e dormir sem acordar fosse fácil, assim o faria.
Mas até meus sonhos se resumem ao calor do teu abraço.
E a culpa de não poder, e a vontade de fazer, e a raiva do desencontro.
Nada disso é fácil de manter sob controle.
Tudo isso, eu diria, é apenas a ponta do iceberg que causaste em mim.
Devo te assustar com tudo isso.
A verdade é que a culpa é do tempo.
Que cruzou teu caminho com o meu na hora errada.
Ou cruzou o caminho dele com o meu, e o dela com o teu, na hora mais errada ainda.
E agora que corro dentro da minha própria mente pra tentar te salvar de mim e de ti,
Vejo que é impossível te esconder, me esconder.
E que, ao que parece, estamos fadados a nos encontrar, de uma forma ou de outra.
Seja nos teus sonhos, nos meus sonhos, ou nos nossos beijos no meio da rua.
E a questão é que eu quero te encontrar, podendo ou não, sendo certo ou não.
E que se for pra correr, eu escolherei correr ao teu encontro, e não de ti.
(baseado no filme: Eternal Sunshine Of The Spotless Mind)
O que aconteceu não é o problema.
Estava mais do que na cara que, cedo ou tarde, tua boca encontraria a minha.
Era uma questão de tempo, e uma pitadinha de sorte.
O problema agora é como lidar com a falta disso.
A vontade do cheiro. O desejo do gosto. A saudade do toque.
Se fosse fácil esquecer e dizer que passou, assim o faria.
Tudo para manter a cabeça e o coração em paz.
Se deitar a cabeça no travesseiro e dormir sem acordar fosse fácil, assim o faria.
Mas até meus sonhos se resumem ao calor do teu abraço.
E a culpa de não poder, e a vontade de fazer, e a raiva do desencontro.
Nada disso é fácil de manter sob controle.
Tudo isso, eu diria, é apenas a ponta do iceberg que causaste em mim.
Devo te assustar com tudo isso.
A verdade é que a culpa é do tempo.
Que cruzou teu caminho com o meu na hora errada.
Ou cruzou o caminho dele com o meu, e o dela com o teu, na hora mais errada ainda.
E agora que corro dentro da minha própria mente pra tentar te salvar de mim e de ti,
Vejo que é impossível te esconder, me esconder.
E que, ao que parece, estamos fadados a nos encontrar, de uma forma ou de outra.
Seja nos teus sonhos, nos meus sonhos, ou nos nossos beijos no meio da rua.
E a questão é que eu quero te encontrar, podendo ou não, sendo certo ou não.
E que se for pra correr, eu escolherei correr ao teu encontro, e não de ti.
(baseado no filme: Eternal Sunshine Of The Spotless Mind)
sexta-feira, maio 16, 2008
NATUREZA MORTA
De tanto pensar, penso agora em não mais pensar.
Deixo-me levar apenas pelas circunstâncias.
Permito-me ser como pólen conduzido pelo vento.
E na primeira flor em que eu parar, farei ali meu recanto.
Seja para crescer ou putrefar.
E como o pólen que é levado pelo vento jamais volta ao mesmo lugar,
Assim eu também não mais voltarei.
E como orvalho chorado da manhã, assim serão minhas lágrimas na hora de ir.
Até nascer o Sol, que com seu abraço quente seca o orvalho e também meu choro.
Até o cair da noite, pra que a Lua venha pratear meus pensamentos, que outrora deixei de pensar.
Deixo-me levar apenas pelas circunstâncias.
Permito-me ser como pólen conduzido pelo vento.
E na primeira flor em que eu parar, farei ali meu recanto.
Seja para crescer ou putrefar.
E como o pólen que é levado pelo vento jamais volta ao mesmo lugar,
Assim eu também não mais voltarei.
E como orvalho chorado da manhã, assim serão minhas lágrimas na hora de ir.
Até nascer o Sol, que com seu abraço quente seca o orvalho e também meu choro.
Até o cair da noite, pra que a Lua venha pratear meus pensamentos, que outrora deixei de pensar.
quarta-feira, maio 07, 2008
domingo, maio 04, 2008
AINDA
Ainda não esqueci o gosto que tua boca deixou na minha, na última vez em que cruzamos nossos olhos.
O calor da tua mão na minha nuca é o que ainda me aquece quando os cobertores não são suficientes.
As lágrimas que derramamos naquela despedida ainda se fazem poesia quando minha mente quer fugir da realidade.
Ainda ouço os sinos badalando e embalando nossas noites.
E toda vez que aquela música me toca os ouvidos, ainda sinto dentro do peito o coração acelerar.
Ninguém entenderia se eu dissesse que ainda te amo.
Ninguém me apoiaria se eu saísse daqui agora a te procurar pra te dizer que ainda te quero.
Mas esses, esses ainda não sentiram as pernas tremerem ao vapor de uma respiração. Nem confiaram o suficiente quando tinham seus olhos vendados.
Ainda não deixaram pra trás uma vida; ainda nao quiseram verdadeiramente viver outra vida.
Eu ainda vou viver muita coisa. Coisas que tu ainda não me ensinastes a viver.
Mas, se me perguntassem hoje o que eu ainda espero dessa vida,
Eu diria que pra essa e pra qualquer outra vida, eu ainda espero te reencontrar.
(baseado no filme: Sweet November)
O calor da tua mão na minha nuca é o que ainda me aquece quando os cobertores não são suficientes.
As lágrimas que derramamos naquela despedida ainda se fazem poesia quando minha mente quer fugir da realidade.
Ainda ouço os sinos badalando e embalando nossas noites.
E toda vez que aquela música me toca os ouvidos, ainda sinto dentro do peito o coração acelerar.
Ninguém entenderia se eu dissesse que ainda te amo.
Ninguém me apoiaria se eu saísse daqui agora a te procurar pra te dizer que ainda te quero.
Mas esses, esses ainda não sentiram as pernas tremerem ao vapor de uma respiração. Nem confiaram o suficiente quando tinham seus olhos vendados.
Ainda não deixaram pra trás uma vida; ainda nao quiseram verdadeiramente viver outra vida.
Eu ainda vou viver muita coisa. Coisas que tu ainda não me ensinastes a viver.
Mas, se me perguntassem hoje o que eu ainda espero dessa vida,
Eu diria que pra essa e pra qualquer outra vida, eu ainda espero te reencontrar.
(baseado no filme: Sweet November)
sexta-feira, maio 02, 2008
*
Estou cansada das tuas amarras.
Estou farta desse teu falso moralismo, dessa tua "preocupação".
Não queres é perder o controle sobre mim.
Não queres deixar de ter alguem pra mandar.
Mas eu cansei de baixar a cabeça pras tuas ordens.
Cansei de esperar o momento certo.
Vou-me embora daqui.
Vou em busca da minha paz.
Pra que eu possa pelo menos domir tranqüila.
Pra que eu possa, pelo menos, ter a consciência limpa de que não vou matar nem a mim, e nem a ti.
Estou farta desse teu falso moralismo, dessa tua "preocupação".
Não queres é perder o controle sobre mim.
Não queres deixar de ter alguem pra mandar.
Mas eu cansei de baixar a cabeça pras tuas ordens.
Cansei de esperar o momento certo.
Vou-me embora daqui.
Vou em busca da minha paz.
Pra que eu possa pelo menos domir tranqüila.
Pra que eu possa, pelo menos, ter a consciência limpa de que não vou matar nem a mim, e nem a ti.
SOMOS NÓS? NÓS SOMOS!
Somos como um tiro que saiu pela culatra.
Uma fórmula que não deu certo.
Você é a ponderação e eu o exagero.
Você é obsessão, eu sou liberdade.
Eu sou arte, você é ciência.
Somos como açúcar e sal, azedo e amargo.
Preto e branco, chuva e sol.
Somos Ying e Yang, Deus e o Diabo.
Nosso amor é como todos os outros.
Um tanto mais intenso, um tanto mais febril.
E eu não tenho antídoto pra tua cólera.
Mas a verdade é que somos chave e fechadura.
Por mais que tu não sejas a fechadura da qual minha chave pertença.
Somos opostos que se atraem.
Quanto mais eu fujo, mais tu me queres por perto.
Quanto mais tu me cuidas, mais quero ser desvelada.
Mas uma não existe sem a outra. E se fosse diferente, ainda assim daríamos nosso jeito de salgar-nos com nossas lágrimas doloridas e nosso peito contrariado.
O que eu quero que entendas é que não deixo de te amar. E que jamais, em memento algum, vou duvidar do teu amor.
O fato é que já não caibo mais em tuas asas, e confesso que aprendi tarde demais a correr pro teu abrigo.
Mas sou feliz assim. Não penses que não.
Porque eu sei que quanto mais tu és minha mãe, mais filha tua eu sou.
Uma fórmula que não deu certo.
Você é a ponderação e eu o exagero.
Você é obsessão, eu sou liberdade.
Eu sou arte, você é ciência.
Somos como açúcar e sal, azedo e amargo.
Preto e branco, chuva e sol.
Somos Ying e Yang, Deus e o Diabo.
Nosso amor é como todos os outros.
Um tanto mais intenso, um tanto mais febril.
E eu não tenho antídoto pra tua cólera.
Mas a verdade é que somos chave e fechadura.
Por mais que tu não sejas a fechadura da qual minha chave pertença.
Somos opostos que se atraem.
Quanto mais eu fujo, mais tu me queres por perto.
Quanto mais tu me cuidas, mais quero ser desvelada.
Mas uma não existe sem a outra. E se fosse diferente, ainda assim daríamos nosso jeito de salgar-nos com nossas lágrimas doloridas e nosso peito contrariado.
O que eu quero que entendas é que não deixo de te amar. E que jamais, em memento algum, vou duvidar do teu amor.
O fato é que já não caibo mais em tuas asas, e confesso que aprendi tarde demais a correr pro teu abrigo.
Mas sou feliz assim. Não penses que não.
Porque eu sei que quanto mais tu és minha mãe, mais filha tua eu sou.
quarta-feira, abril 30, 2008
TORMENTA
Tem os olhos negros marejados.
As mãos escondem o rosto, deixando o corpo despido mostrar-se.
Sente a dor física das palavras cortarem a pele, abrindo feridas outrora cicatrizadas.
Lembra da infância negligenciada, da juventude omissa.
Permanece muda enquanto a língua sangra a alma, feito navalha cravada na carne.
E quando os olhos criam coragem para fitar aqueles verdes e raivosos, prefere entregar-se a tortura da morte, afogando-se lentamente nas lágrimas choradas do passado.
Como se lutar não valesse a pena, desiste.
E nua, sob o olhar de esmeralda, adormece.
As mãos escondem o rosto, deixando o corpo despido mostrar-se.
Sente a dor física das palavras cortarem a pele, abrindo feridas outrora cicatrizadas.
Lembra da infância negligenciada, da juventude omissa.
Permanece muda enquanto a língua sangra a alma, feito navalha cravada na carne.
E quando os olhos criam coragem para fitar aqueles verdes e raivosos, prefere entregar-se a tortura da morte, afogando-se lentamente nas lágrimas choradas do passado.
Como se lutar não valesse a pena, desiste.
E nua, sob o olhar de esmeralda, adormece.
sexta-feira, abril 25, 2008
TEUS OLHOS
Se estou mais feliz hoje, a culpa é daquela foto.
Que me deixou mais bela.
E eu diria sem sombra de dúvidas, que foram esses teus olhos, meu bem, que ao me verem daquele jeito, me trouxeram um outro sorriso.
E é esse sorriso que levarei comigo.
O sorriso que teus olhos não podem ver, mas puderam causar.
Que me deixou mais bela.
E eu diria sem sombra de dúvidas, que foram esses teus olhos, meu bem, que ao me verem daquele jeito, me trouxeram um outro sorriso.
E é esse sorriso que levarei comigo.
O sorriso que teus olhos não podem ver, mas puderam causar.
terça-feira, abril 22, 2008
DESABAFO
Eu te amo calada.
Não me perguntes o porque.
Os que me conhecem diriam que endoideci, que não estou em mim.
E de fato não estou.
Estou em nós.
Nos nossos beijos demorados, e no toque da tua mão na minha pele.
Nas fotografias, nas dúvidas e respostas.
Estou nesse bem-querer que me toma o peito cada vez que te escuto falar.
Mas eu me calo. Não consigo te olhar nos olhos e dizer de verdade o que tu me provocas.
Esse furor de sentimentos indefinidos que brotam seguros em desenvolver-se.
O fato, garoto, é que eu te amo.
Não só pelo que você é, mas pelo que estas me ensinando a ser.
Não me perguntes o porque.
Os que me conhecem diriam que endoideci, que não estou em mim.
E de fato não estou.
Estou em nós.
Nos nossos beijos demorados, e no toque da tua mão na minha pele.
Nas fotografias, nas dúvidas e respostas.
Estou nesse bem-querer que me toma o peito cada vez que te escuto falar.
Mas eu me calo. Não consigo te olhar nos olhos e dizer de verdade o que tu me provocas.
Esse furor de sentimentos indefinidos que brotam seguros em desenvolver-se.
O fato, garoto, é que eu te amo.
Não só pelo que você é, mas pelo que estas me ensinando a ser.
segunda-feira, abril 21, 2008
AQUELE MAR
Não sei se te peço muito, se te exijo muito, não sei.
Sinto-me como um barco a navegar em águas profundas, sem cais.
Eu só queria um porto pra atracar.
Aquela segurança que se tem de que, depois da tempestade, é certo que a calmaria virá.
Mas talvez não seja hora de eu descobrir o meu, o teu porto.
Quem sabe esse seja o momento de navegar às escuras, torcendo pra que você me apareça feito farol, ilumindando o que eu devo desviar.
Ou quem sabe essa seja a hora de soltar âncora e partir, para o horizonte, distante, onde nem a ti, nem a ninguém eu vá encontar.
Eu só queria que tu te comportasses como meu norte.
Não que eu queira que tu sejas meu objetivo final.
Com todas as cartas marítimas que recebi, estou certa de que não devo confiar minha rota à nenhum outro capitão que não eu mesmo.
Mas eu queria muito que teu barco seguisse junto ao meu, lado a lado, crescendo e compartilhando as argruras do trajeto.
E te confesso que meu maior medo, é me ver naufragar agora, enquanto eu torço pra que alcancemos a terra firme.
Eu só te peço, nobre marujo, que não me deixes esperando.
Que não me faças teu engano, procurando em mim outra boca, outros corpos.
Eu só te peço que, se fores meu, que o seja cem por cento, que o sejas integral.
E eu só espero, que tu verdadeiramente sejas minha ilha, onde eu aporte esse coração marejado e não ache caminhos pra voltar.
Sinto-me como um barco a navegar em águas profundas, sem cais.
Eu só queria um porto pra atracar.
Aquela segurança que se tem de que, depois da tempestade, é certo que a calmaria virá.
Mas talvez não seja hora de eu descobrir o meu, o teu porto.
Quem sabe esse seja o momento de navegar às escuras, torcendo pra que você me apareça feito farol, ilumindando o que eu devo desviar.
Ou quem sabe essa seja a hora de soltar âncora e partir, para o horizonte, distante, onde nem a ti, nem a ninguém eu vá encontar.
Eu só queria que tu te comportasses como meu norte.
Não que eu queira que tu sejas meu objetivo final.
Com todas as cartas marítimas que recebi, estou certa de que não devo confiar minha rota à nenhum outro capitão que não eu mesmo.
Mas eu queria muito que teu barco seguisse junto ao meu, lado a lado, crescendo e compartilhando as argruras do trajeto.
E te confesso que meu maior medo, é me ver naufragar agora, enquanto eu torço pra que alcancemos a terra firme.
Eu só te peço, nobre marujo, que não me deixes esperando.
Que não me faças teu engano, procurando em mim outra boca, outros corpos.
Eu só te peço que, se fores meu, que o seja cem por cento, que o sejas integral.
E eu só espero, que tu verdadeiramente sejas minha ilha, onde eu aporte esse coração marejado e não ache caminhos pra voltar.
sábado, abril 19, 2008
BOA NOITE
A cama que ontem parecia pequena pra nós dois, hoje anoiteceu grande e vazia, sem você.
E eu não quero adormecer sem teu corpo ao meu lado.
Porque eu sou muito mais feliz quando, no escuro, você me abraça, me beija, e me diz boa noite.
E eu não quero adormecer sem teu corpo ao meu lado.
Porque eu sou muito mais feliz quando, no escuro, você me abraça, me beija, e me diz boa noite.
quinta-feira, abril 17, 2008
MORENA FLOR
Tu te concentras nos pontos errados.
Desvias teus olhos dos dela e a desabraças, quando na verdade tu a deverias segurar junto a ti e encará-la.
É tudo uma questão de foco.
E te digo mais: até aqui deves ser compositor.
Se existem regras para isso?
Não, não há.
Mas certos pontos deveriam ser encarados por ti como premissas.
Não basta para ela ser rainha por duas ou três horas.
Rainhas são perenes.
Como as abelhas.
Tu deverias compreender.
E se a música te é assim tão importante, faça daquela tatuagem uma canção.
Tu te garantirias assim, exclusividade.
Não que de certa forma tu já não a tenhas toda para ti.
Acredito que tu sejas dono da maior parte daquele coração.
Mas tu te concentras nos pontos errados.
Tu deverias te fazer presente ainda quando estão distantes.
E eu te entenderia se me dissesses que é dessa maneira que preferes lidar.
Mas aquela morena já é flor desabrochada.
Se tu te mantiveres por muito distânte, perderás o melhor do perfume, e quando regressares, já não encontrarás mais no toque as pétalas.
Terão ido-se ao chão.
Tu deverias levá-la a tira-colo.
Porque enquanto tu te ausentas pela noite, os vagalumes pra ela vêm brilhar.
E se tu não te cuidares, joão-de-barro, não será na tua casa que ela irá morar.
Desvias teus olhos dos dela e a desabraças, quando na verdade tu a deverias segurar junto a ti e encará-la.
É tudo uma questão de foco.
E te digo mais: até aqui deves ser compositor.
Se existem regras para isso?
Não, não há.
Mas certos pontos deveriam ser encarados por ti como premissas.
Não basta para ela ser rainha por duas ou três horas.
Rainhas são perenes.
Como as abelhas.
Tu deverias compreender.
E se a música te é assim tão importante, faça daquela tatuagem uma canção.
Tu te garantirias assim, exclusividade.
Não que de certa forma tu já não a tenhas toda para ti.
Acredito que tu sejas dono da maior parte daquele coração.
Mas tu te concentras nos pontos errados.
Tu deverias te fazer presente ainda quando estão distantes.
E eu te entenderia se me dissesses que é dessa maneira que preferes lidar.
Mas aquela morena já é flor desabrochada.
Se tu te mantiveres por muito distânte, perderás o melhor do perfume, e quando regressares, já não encontrarás mais no toque as pétalas.
Terão ido-se ao chão.
Tu deverias levá-la a tira-colo.
Porque enquanto tu te ausentas pela noite, os vagalumes pra ela vêm brilhar.
E se tu não te cuidares, joão-de-barro, não será na tua casa que ela irá morar.
terça-feira, abril 15, 2008
RIMAS
E agora que eu tenho você, que a luz acabe, que a voz se cale, que o mundo pare de girar.
Agora que eu tenho você, que a lua brilhe, que a chuva molhe, que o vento sopre devagar.
Agora que eu tenho você, que a imagem permaneça, que tudo o que é bonito floresça, que haja mais ondas no mar.
E agora que eu tenho você, que aqui você fique, e que tua boca grite, tudo o que eu quero escutar.
quarta-feira, abril 09, 2008
COMO
E como seria se tu não tivesses partido?
Se tivesses optado ficar comigo?
Afagarias meu cabelo todas as noites, antes de dormir?
Me protegerias dos pesadelos, com teus abraços?
E se ela não tivesse te olhado?
Se tu não a tivesses correspondido?
Trarias pra casa as marcas no colarinho?
Te misturarias àquelas pernas, me esquecendo?
E se tu tivesses cumprido o que jurastes?
Se não tivesses dado ouvidos ao teu coração?
Me colocaria sobre tua mesa numa foto?
Me porias ao alcance daquelas doces nuvens de algodão?
E se tu não tivesses partido, teria eu um herói pra me salvar do perigo?
Teria eu perdido minha pureza aos cinco?
Teria eu esse rombo no peito, tão dolorido?
Heim, pai?
Se tivesses optado ficar comigo?
Afagarias meu cabelo todas as noites, antes de dormir?
Me protegerias dos pesadelos, com teus abraços?
E se ela não tivesse te olhado?
Se tu não a tivesses correspondido?
Trarias pra casa as marcas no colarinho?
Te misturarias àquelas pernas, me esquecendo?
E se tu tivesses cumprido o que jurastes?
Se não tivesses dado ouvidos ao teu coração?
Me colocaria sobre tua mesa numa foto?
Me porias ao alcance daquelas doces nuvens de algodão?
E se tu não tivesses partido, teria eu um herói pra me salvar do perigo?
Teria eu perdido minha pureza aos cinco?
Teria eu esse rombo no peito, tão dolorido?
Heim, pai?
segunda-feira, abril 07, 2008
INTERLÚDIO
Eu sei, eu sei que não acabou.
Adormeceu apenas, aquietou-se no teu peito, e ali ficará.
Passarão pessoas, tempos e tormentas.
E tudo continuará ali, adormecido.
Não a terás nunca mais.
E eu, quem sabe, também nunca mais o veja depois de hoje.
Poderão dizer que é tudo banalidade, loucura, talvez.
Mas eu sei que não é.
A verdade é que não estou acostumada às tuas gentilezas.
Não posso acostumar-me com isso.
E não estou dizendo, nem de longe, que me queres ao teu lado.
Também não sei se te quero ao meu.
Mas nunca ninguém tinha me tratado assim antes.
Saí daí pensando que se um dia eu fosse buscar alguém para dividir minha vida, esse alguém poderia se parecer contigo.
Não posso afirmar que estou feliz porque tu te recuperas bem, afinal, eu nem sei como tu eras antes disso tudo.
E agora, possívelmente, depois que voltares à vida, não precisarás da minha companhia e nem das minhas carícias.
O que me faz garantir que levarás algo de mim em ti, além do que compraste, é tua cozinha bem organizada e a louça lavada.
E o que eu levarei de ti, além dos teus vinténs?
Ainda não sei precisar ao certo. Não sei mensurar, nem nomear.
Mas já é algo. Que vai além de posições e fluidos.
E te devo confessar: tu me farás falta, e também ficarás aqui, adormecido.
Adormeceu apenas, aquietou-se no teu peito, e ali ficará.
Passarão pessoas, tempos e tormentas.
E tudo continuará ali, adormecido.
Não a terás nunca mais.
E eu, quem sabe, também nunca mais o veja depois de hoje.
Poderão dizer que é tudo banalidade, loucura, talvez.
Mas eu sei que não é.
A verdade é que não estou acostumada às tuas gentilezas.
Não posso acostumar-me com isso.
E não estou dizendo, nem de longe, que me queres ao teu lado.
Também não sei se te quero ao meu.
Mas nunca ninguém tinha me tratado assim antes.
Saí daí pensando que se um dia eu fosse buscar alguém para dividir minha vida, esse alguém poderia se parecer contigo.
Não posso afirmar que estou feliz porque tu te recuperas bem, afinal, eu nem sei como tu eras antes disso tudo.
E agora, possívelmente, depois que voltares à vida, não precisarás da minha companhia e nem das minhas carícias.
O que me faz garantir que levarás algo de mim em ti, além do que compraste, é tua cozinha bem organizada e a louça lavada.
E o que eu levarei de ti, além dos teus vinténs?
Ainda não sei precisar ao certo. Não sei mensurar, nem nomear.
Mas já é algo. Que vai além de posições e fluidos.
E te devo confessar: tu me farás falta, e também ficarás aqui, adormecido.
quinta-feira, março 27, 2008
27/03/1984
Eu cresci, né? É, eu cresci! Não tanto quanto gostaria, mas mais do que eu esperava. Pelo menos assim posso ser grande e pequena, dançando conforme minha trilha sonora e o tamanho do meu salto. Falando em dançar, eu já fui bailarina, dançarina de rua, já fui clássica, moderna, contemporânea. Hoje, no máximo um sambinha, pra não me fazer esquecer das origens. E olha que minhas origens são engraçadas. Pra se ter idéia, eu já gostei de Leandro e Leonardo, já cantei moda de viola, e ainda tenho os discos do Balão Mágico e do Trem da Alegria. Hoje, a Patrícia Marx e o Jair Oliveira fazem parte da minha galeria de músicos respeitáveis, juntos com outros nomes que pra mim são importantes, como Max de Castro e Ed Motta. E pensar que eu nunca fui ao show do Ed Motta. Mas já vi ao vivo a Sandra de Sá, Lulu Santos, Nando Reis, JAMIROQUAI, Cypress Hill e até o Hanson. Por falar em Hanson, eu jurava por A+B que casaria com um dos Backstreet Boys, e acreditava piamente no "Girl Power", o lema das Spice Girls. É, eu já acreditei em muita coisa. E desacreditei também. Já acreditei no saci pererê e desacreditei no papai noel. Já acreditei em Deus e desacreditei no Diabo. Já acreditei em gente e desacreditei em animal. Hoje, acredito em mim mesma e desacredito no resto; seja esse resto qual for. E olha, eu também já fiz uma faculdade. Me formei em quatro anos sem nunca pegar um único exame final sequer. Eu também já aprendi inglês, italiano, espanhol, e não esqueci. Em compensação, quimica e matemática eu nunca aprendi. E se tivesse aprendido, faria questão de esquecer. Eu não sei cozinhar. Ou melhor, eu não gosto de cozinhar, porque cozinhar eu sei. Meu arroz com cenoura e queijo, por exemplo, é ótimo! Eu sei também que o preto é ausência de cor e o branco é a soma de todas elas. Eu sei que se eu abrir bastante o diafragma da minha lente eu terei uma imagem com profundidade de campo bem baixa. E eu também sei que "eu te amo" não é "bom dia". Eu não gosto de ervilhas. Nem das frescas. E eu tentei não gostar de carne, mas eu gosto. Eu também gosto de suco de laranja sem açúcar, embora meu suco preferido seja de limão. Ou seria cajá? É, isso eu não sei. Eu sei que já apanhei de mangueira, já tomei banho de chuva, já caí do beliche e da bicicleta. Que já tive insolação e catapora. Que meus pais são separados, e que eu tenho dois pais e só uma mãe. Sei que eu moro em apartamento sonhando em ter uma casa. Mas eu não sei se gosto mais de all star ou plataforma. Ele prefere o all star (L). Disso eu sei. E eu me lembro que fui cantora de coral e tocava guitarra numa banda de rock. Que tive um namorado virtual que virou real, e um real que afastou-se tanto que era quase uma lenda. Por falar nisso, eu achei o filme "Eu sou a Lenda" bem meia boca. Meu filme preferido sempre será Magnólia. Mas Paris, Textas tem uma fotografia linda. E já que eu citei a fotografia, bem, a fotografia é minha paixão e profissão por opção. Vivo de fotografia e amo muito. Eu também amo minha mãe, minha família, meus amigos. E eu sou bastante sentimental, e deveras estressada. É por isso que eu tomo tanto café e fumo. É, pasmem. Eu fumo. Escondida de muitas pessoas, fato. Mas o fato é que eu já fiz muita coisa escondida e não ando querendo esconder mais nada. Nem que eu fumo, nem que eu já matei aula, e nem que eu tenho um namorado. Hoje eu faço 24 anos e trago à luz, sem esconder, o que eu fiz, o que gostei, o que eu acredito e o que eu sou.
quinta-feira, março 13, 2008
SMOKE
Acendo um cigarro.
Não queria voltar com eles.
Mas eles são os únicos que te trazem pra mais perto.
Cada vez que me invado de fumaça, é como se você se achegasse um pouco mais.
Não consigo parar.
Acendo um atrás do outro.
Me embriago na sensação dos teus braços a me envolver.
E quando trago pela última vez o último deles, vejo tua mão me dando adeus, desfazendo-se como a nuvem que exalo.
E eu nunca senti tanta falta de um abraço, do teu abraço, como hoje.
Então eu deixo o vento frio e a chuva fina se misturarem às minhas lágrimas, e vou pro próximo maço.
Não queria voltar com eles.
Mas eles são os únicos que te trazem pra mais perto.
Cada vez que me invado de fumaça, é como se você se achegasse um pouco mais.
Não consigo parar.
Acendo um atrás do outro.
Me embriago na sensação dos teus braços a me envolver.
E quando trago pela última vez o último deles, vejo tua mão me dando adeus, desfazendo-se como a nuvem que exalo.
E eu nunca senti tanta falta de um abraço, do teu abraço, como hoje.
Então eu deixo o vento frio e a chuva fina se misturarem às minhas lágrimas, e vou pro próximo maço.
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
NÃO
Se não doesse tanto o não, seria mais fácil de entender.
Mesmo que não pronunciado, mesmo que só na intenção.
Se não doesse tanto, seria mais fácil. Mesmo acreditando que o não já se tem.
Que é tudo o que se tem.
Quando se confirma, dói ainda mais. Mas dói mais ainda quando o sim vira não.
Quando se tem o sim, quando se é o sim, quando se vive o sim.
E quando o sim vira não, quando o sim chega ao fim, aí sim.
É a mais dolorida das dores do não, não?
Sim!
Mesmo que não pronunciado, mesmo que só na intenção.
Se não doesse tanto, seria mais fácil. Mesmo acreditando que o não já se tem.
Que é tudo o que se tem.
Quando se confirma, dói ainda mais. Mas dói mais ainda quando o sim vira não.
Quando se tem o sim, quando se é o sim, quando se vive o sim.
E quando o sim vira não, quando o sim chega ao fim, aí sim.
É a mais dolorida das dores do não, não?
Sim!
domingo, fevereiro 03, 2008
BLOCO
Fantasia-se de amor e sai
Segue o bloco, arrasta-se
Rasga-se, perde-se, mas vai
Acredita, delira, pede pra voltar
Mas não volta, porque é carnaval
Segue o bloco, arrasta-se
Rasga-se, perde-se, mas vai
Acredita, delira, pede pra voltar
Mas não volta, porque é carnaval
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
RESPOSTA
Deita de barriga pra cima na cama.
Olha o teto, cheio de estrelas brilhantes.
Do lado esquerdo, a tevê reflete imagens borradas.
Uma música desconhecida, ou conhecida, não se sabe.
Gostaria que a letra não fosse tão triste.
Ou que não tivesse um final tão triste.
Mas agora está na moda extirpar o "felizes para sempre".
Seria mais fácil se ele dissesse que as tais lágrimas o fizeram desistir. Que reclinou por causa do riso.
Que ele foi embora, pro tal do lugar, mas que descobriu que na verdade, o lugar dele era ali também.
Deitado de barriga pra cima, vendo estrelas brilhates no teto.
Na verdade, ele ainda vai chorar muito. Porque não foi tudo dele que ele levou pro lado de lá.
Ficaram pra trás alguns pedaços.
E mesmo pedindo pra não pensar que ele foi por não amar,
Mesmo dizendo que pra vida dele seguir adiante é preciso ser maior,
Mesmo assim não dá pra acalmar a tormenta.
Alimentar-se é fácil. Assim como é fácil ser jogado no chão.
Pra que procurá-lo só na confusão?
Pra que dividir-se em outro alguém?
Pra que se perder?
Pra que a vida siga adiante?
Adeus você então.
Olha o teto, cheio de estrelas brilhantes.
Do lado esquerdo, a tevê reflete imagens borradas.
Uma música desconhecida, ou conhecida, não se sabe.
Gostaria que a letra não fosse tão triste.
Ou que não tivesse um final tão triste.
Mas agora está na moda extirpar o "felizes para sempre".
Seria mais fácil se ele dissesse que as tais lágrimas o fizeram desistir. Que reclinou por causa do riso.
Que ele foi embora, pro tal do lugar, mas que descobriu que na verdade, o lugar dele era ali também.
Deitado de barriga pra cima, vendo estrelas brilhates no teto.
Na verdade, ele ainda vai chorar muito. Porque não foi tudo dele que ele levou pro lado de lá.
Ficaram pra trás alguns pedaços.
E mesmo pedindo pra não pensar que ele foi por não amar,
Mesmo dizendo que pra vida dele seguir adiante é preciso ser maior,
Mesmo assim não dá pra acalmar a tormenta.
Alimentar-se é fácil. Assim como é fácil ser jogado no chão.
Pra que procurá-lo só na confusão?
Pra que dividir-se em outro alguém?
Pra que se perder?
Pra que a vida siga adiante?
Adeus você então.
quinta-feira, janeiro 31, 2008
HELENA&TADEU
Quando chegou em casa, Helena encontrou um bilhete em cima da mesa da cozinha:
"Fui comprar cigarros, volto logo!"
Era óbvio que não voltaria. E de fato, não voltou.
Tadeu era um cara descolado, gostava de artes, boa música, usava all star. Sabia tudo sobre tudo.
Helena reservava-se ao direito de escutar seus velhos discos de blues às sextas-feiras a noite. Conheceram-se inusitadamente, quando ele pediu o açucareiro emprestado.
"Posso?" - Ele apontou.
Ela, olhando por cima dos óculos, fez que sim com a cabeça.
Cinco minutos se passaram entre ele colocar o açúcar no café e sentar-se à mesa junto a ela. Conversaram por horas, como se fossem antigos conhecidos que se reencontraram. Foram os últimos a sair da cafeteria. Ela carregando uma dúzia de fotos em preto e branco, ele de mãos vazias.
Erraram propositalmente o caminho de volta para casa. Eles nem moravam na mesma direção, mas Tadeu, além de descolado, era também um cavalheiro.
Andaram lado a lado o tempo todo.
Ele com as mãos no bolso da calça xadrez, ela abraçada às imagens.
Quando dobraram a esquina, já na rua da casa de Helena, Tadeu, ainda com as mãos no bolso, parou frente a ela, e olhando dentro dos olhos dela disse: "Sabe, parece estranho, a gente mal se conhece, ou melhor, a gente não se conhece, mas eu gosto de você."
Helena enrubreceu e desabraçando as fotografias o retribuiu com um sorriso.
Andaram por mais meio minuto, em silêncio.
Helena parou frente a ele e sorrindo um sorriso maior que o anterior disse: "Eu também gosto de você."
Ficaram parados sob a luz avermelhada vinda do alto do poste, em silêncio, por mais alguns segundos. "Sabe, hoje é sexta, e eu sempre escuto blues na sexta-feira a noite.
Você gosta de blues?"
Helena nem respirou entre as palavras, para não correr o risco de desistir do convite no meio do caminho. "Não entendo muito de blues, mas, seria bacana." "Bacana", ela pensou. "Vou fazer uma nota mental sobre o uso do 'bacana'. Pessoas normais não falam 'bacana' para blues." "Certo, minha casa é logo ali", ela apontou com a mão direita.
Caminharam cerca de duzentos metros. E lá estava a casa.
Grades e janelas vermelhas. Paredes brancas. No jardim, rosas, também vermelhas. Entraram pelo portão. Primeiro ela. Ele logo em seguida.
Ela girou a chave duas vezes e a porta se abriu. Entrando em casa, colocou as fotografias sobre a mesa e fez um sinal com a mão para que Tadeu procurasse um lugar confortável para sentar.
Ele escolheu a poltrona de estofado preto debaixo da janela e, tirando o tênis, sentou com as pernas cruzadas, feito índio.
Helena foi até a cozinha, trouxe vinho tinto seco e serviu a Tadeu.
Colocou um clássico de B.B King na vitrola, e brindaram. Ouvia-se apenas o som das taças quando deixadas sob a mesinha de centro. E as canções.
Helena deitou-se no sofá e fechou os olhos, como se quisesse que o tempo parasse naquela hora. Tadeu também queria que o tempo parasse. Mas ele sabia que não pararia. E ele tinha que fazer alguma coisa.
Dizer que blues era só "bacana" não ajudaria muito caso ele quisesse que Helena o visse não só como o desconhecido do açucareiro.
Sem dizer nada, andou até o sofá e debruçando-se sobre ela, sem pensar, a beijou.
Ela, como se já estivesse prevendo, o retribuiu, como há muito não fazia. Os movimentos que se seguiram eram esperados, mas não planejados, afinal, sexta era dia de blues.
E desde então, todas as sextas-feiras seguintes encontravam-se no café, faziam o mesmo caminho a pé, tomavam vinho, ouviam blues, e se amavam.
E todos os sábados pela manhã ela encontrava o mesmo bilhete sobre a mesa, a respeito dos cigarros.
Mas dessa vez foi diferente. Não se encontraram na sexta-feira. Era uma terça-feira chuvosa e fria. Quando entrou na cafeteria e viu Tadeu sentado, Helena se assustou. Pensou em ir embora, não queria que ele a visse. Mas não deu tempo. Ele levantou para pegar o açúcar na mesa vizinha e a viu parada à porta, estática.
Foi até ela e a puxou pela mão, para que o acompanhasse num café. Ela, muda, não recusou. Tudo era estranho pra ela. A chuva, o gosto do café, as pessoas, e Tadeu.
Tadeu não combinava com terça-feira.
Levantaram-se e como que instintivamente caminharam em direção à casa de Helena.
A caminhada, que pela primeira vez acontecera debaixo de chuva, foi mais curta do que as habituais e tranqüilas caminhadas de sexta-feira.
Quando Helena colocou a chave na fechadura, percebeu que havia dado apenas uma volta, e não duas, como de costume.
E poderia parecer bobagem, mas na cabeça dela, tudo era sinal de que as coisas estavam acontecendo para encurtar o tempo que passariam juntos. O vinho tinha acabado. O plano era repor o estoque na quinta, mas ainda era terça. A trilha não poderia ser blues, porque blues só se ouve na sexta, e ainda era terça.
Tadeu sentou, diferente das sextas, no sofá onde Helena sempre deitava. Ela, por sua vez, sentou-se no chão, cruzando as pernas, fitando a chuva que caia lá fora.
Amaram-se. E até isso foi diferente das sextas-feiras. Sem blues, sem vinho, o barulho da chuva. O toque dele era mais frio. Ela não queria tocá-lo. Seus olhos não se encontravam, nada se encontrava. Pareciam desconexos. Pareciam estranhos. Eram estranhos.
Dormiram ali mesmo, no chão da sala. Ela, quando acordou, o deixou no chão e saiu, largando sobre a mesa um bilhete: "Fui trabalhar, volto para o almoço."
Durante o caminho de ida, e na volta, ficou pensando no que aconteceu. Sabia que não aconteceria novamente, nem as terças, nem as sextas, nem nunca mais.
Sabia que chegaria em casa e não o encontraria, nem no chão, nem sentado na poltrona de estofado preto, nem em lugar nenhum.
Sabia que aquele tinha sido o fim.
"Maldita terça-feira", ela pensou, chutando as pedras no caminho.
Quando chegou em casa, Helena encontrou um bilhete em cima da mesa da cozinha:
"Fui comprar cigarros, volto logo!"
E então ela teve a confirmação daquilo que seus passos diziam.
"Não deveria acabar, não poderia acabar assim, da noite para o dia."
Mas acabou.
"Fui comprar cigarros, volto logo!"
Era óbvio que não voltaria. E de fato, não voltou.
Tadeu era um cara descolado, gostava de artes, boa música, usava all star. Sabia tudo sobre tudo.
Helena reservava-se ao direito de escutar seus velhos discos de blues às sextas-feiras a noite. Conheceram-se inusitadamente, quando ele pediu o açucareiro emprestado.
"Posso?" - Ele apontou.
Ela, olhando por cima dos óculos, fez que sim com a cabeça.
Cinco minutos se passaram entre ele colocar o açúcar no café e sentar-se à mesa junto a ela. Conversaram por horas, como se fossem antigos conhecidos que se reencontraram. Foram os últimos a sair da cafeteria. Ela carregando uma dúzia de fotos em preto e branco, ele de mãos vazias.
Erraram propositalmente o caminho de volta para casa. Eles nem moravam na mesma direção, mas Tadeu, além de descolado, era também um cavalheiro.
Andaram lado a lado o tempo todo.
Ele com as mãos no bolso da calça xadrez, ela abraçada às imagens.
Quando dobraram a esquina, já na rua da casa de Helena, Tadeu, ainda com as mãos no bolso, parou frente a ela, e olhando dentro dos olhos dela disse: "Sabe, parece estranho, a gente mal se conhece, ou melhor, a gente não se conhece, mas eu gosto de você."
Helena enrubreceu e desabraçando as fotografias o retribuiu com um sorriso.
Andaram por mais meio minuto, em silêncio.
Helena parou frente a ele e sorrindo um sorriso maior que o anterior disse: "Eu também gosto de você."
Ficaram parados sob a luz avermelhada vinda do alto do poste, em silêncio, por mais alguns segundos. "Sabe, hoje é sexta, e eu sempre escuto blues na sexta-feira a noite.
Você gosta de blues?"
Helena nem respirou entre as palavras, para não correr o risco de desistir do convite no meio do caminho. "Não entendo muito de blues, mas, seria bacana." "Bacana", ela pensou. "Vou fazer uma nota mental sobre o uso do 'bacana'. Pessoas normais não falam 'bacana' para blues." "Certo, minha casa é logo ali", ela apontou com a mão direita.
Caminharam cerca de duzentos metros. E lá estava a casa.
Grades e janelas vermelhas. Paredes brancas. No jardim, rosas, também vermelhas. Entraram pelo portão. Primeiro ela. Ele logo em seguida.
Ela girou a chave duas vezes e a porta se abriu. Entrando em casa, colocou as fotografias sobre a mesa e fez um sinal com a mão para que Tadeu procurasse um lugar confortável para sentar.
Ele escolheu a poltrona de estofado preto debaixo da janela e, tirando o tênis, sentou com as pernas cruzadas, feito índio.
Helena foi até a cozinha, trouxe vinho tinto seco e serviu a Tadeu.
Colocou um clássico de B.B King na vitrola, e brindaram. Ouvia-se apenas o som das taças quando deixadas sob a mesinha de centro. E as canções.
Helena deitou-se no sofá e fechou os olhos, como se quisesse que o tempo parasse naquela hora. Tadeu também queria que o tempo parasse. Mas ele sabia que não pararia. E ele tinha que fazer alguma coisa.
Dizer que blues era só "bacana" não ajudaria muito caso ele quisesse que Helena o visse não só como o desconhecido do açucareiro.
Sem dizer nada, andou até o sofá e debruçando-se sobre ela, sem pensar, a beijou.
Ela, como se já estivesse prevendo, o retribuiu, como há muito não fazia. Os movimentos que se seguiram eram esperados, mas não planejados, afinal, sexta era dia de blues.
E desde então, todas as sextas-feiras seguintes encontravam-se no café, faziam o mesmo caminho a pé, tomavam vinho, ouviam blues, e se amavam.
E todos os sábados pela manhã ela encontrava o mesmo bilhete sobre a mesa, a respeito dos cigarros.
Mas dessa vez foi diferente. Não se encontraram na sexta-feira. Era uma terça-feira chuvosa e fria. Quando entrou na cafeteria e viu Tadeu sentado, Helena se assustou. Pensou em ir embora, não queria que ele a visse. Mas não deu tempo. Ele levantou para pegar o açúcar na mesa vizinha e a viu parada à porta, estática.
Foi até ela e a puxou pela mão, para que o acompanhasse num café. Ela, muda, não recusou. Tudo era estranho pra ela. A chuva, o gosto do café, as pessoas, e Tadeu.
Tadeu não combinava com terça-feira.
Levantaram-se e como que instintivamente caminharam em direção à casa de Helena.
A caminhada, que pela primeira vez acontecera debaixo de chuva, foi mais curta do que as habituais e tranqüilas caminhadas de sexta-feira.
Quando Helena colocou a chave na fechadura, percebeu que havia dado apenas uma volta, e não duas, como de costume.
E poderia parecer bobagem, mas na cabeça dela, tudo era sinal de que as coisas estavam acontecendo para encurtar o tempo que passariam juntos. O vinho tinha acabado. O plano era repor o estoque na quinta, mas ainda era terça. A trilha não poderia ser blues, porque blues só se ouve na sexta, e ainda era terça.
Tadeu sentou, diferente das sextas, no sofá onde Helena sempre deitava. Ela, por sua vez, sentou-se no chão, cruzando as pernas, fitando a chuva que caia lá fora.
Amaram-se. E até isso foi diferente das sextas-feiras. Sem blues, sem vinho, o barulho da chuva. O toque dele era mais frio. Ela não queria tocá-lo. Seus olhos não se encontravam, nada se encontrava. Pareciam desconexos. Pareciam estranhos. Eram estranhos.
Dormiram ali mesmo, no chão da sala. Ela, quando acordou, o deixou no chão e saiu, largando sobre a mesa um bilhete: "Fui trabalhar, volto para o almoço."
Durante o caminho de ida, e na volta, ficou pensando no que aconteceu. Sabia que não aconteceria novamente, nem as terças, nem as sextas, nem nunca mais.
Sabia que chegaria em casa e não o encontraria, nem no chão, nem sentado na poltrona de estofado preto, nem em lugar nenhum.
Sabia que aquele tinha sido o fim.
"Maldita terça-feira", ela pensou, chutando as pedras no caminho.
Quando chegou em casa, Helena encontrou um bilhete em cima da mesa da cozinha:
"Fui comprar cigarros, volto logo!"
E então ela teve a confirmação daquilo que seus passos diziam.
"Não deveria acabar, não poderia acabar assim, da noite para o dia."
Mas acabou.
domingo, janeiro 27, 2008
PALAVRAS
Um texto que não passa das primeiras linhas.
Palavras que não fazem questão de serem escritas.
Sentido que não quer ser mostrado.
Cabeça que não vira.
Olhos que não vêem o que ficou para trás.
Pés que andam sempre na mesma direção.
Braços que não sentem abraços.
Boca que não sente a língua.
Coração que não bate.
Garganta que não canta.
Cabelos sem cheiro.
Imagem sem luz.
Eu sem você.
Palavras que não fazem questão de serem escritas.
Sentido que não quer ser mostrado.
Cabeça que não vira.
Olhos que não vêem o que ficou para trás.
Pés que andam sempre na mesma direção.
Braços que não sentem abraços.
Boca que não sente a língua.
Coração que não bate.
Garganta que não canta.
Cabelos sem cheiro.
Imagem sem luz.
Eu sem você.
terça-feira, janeiro 15, 2008
SEI
Se foi por acaso
De eu ter teu abraço
Eu não sei
Se foi por magia
De eu ser poesia
Eu não sei
Se foi por razão
De eu te ter em canção
Eu não sei
Mas que foi por amor
De eu ter teu sabor
Disso eu sei
Que ainda é atraso
Que não te tenho ao meu lado
Eu sei
Que você é maresia
Que eu sou alegria
Eu sei
Que você é coração
Que você é meu refrão
Eu sei
Até quando será dor
Não sentir teu calor
Eu não sei
De eu ter teu abraço
Eu não sei
Se foi por magia
De eu ser poesia
Eu não sei
Se foi por razão
De eu te ter em canção
Eu não sei
Mas que foi por amor
De eu ter teu sabor
Disso eu sei
Que ainda é atraso
Que não te tenho ao meu lado
Eu sei
Que você é maresia
Que eu sou alegria
Eu sei
Que você é coração
Que você é meu refrão
Eu sei
Até quando será dor
Não sentir teu calor
Eu não sei
sexta-feira, janeiro 11, 2008
...
Acordei e abri a janela na esperança de ver o sol brilhar pra mim.
As lágrimas não avisaram que estavam a caminho, simplesmente brotaram, como a chuva que insistia em cair.
Não consegui entender qual era a relação delas com o tempo.
E aí eu descobri que era saudade.
Porque hoje o céu amanheceu escuro como teus olhos.
As lágrimas não avisaram que estavam a caminho, simplesmente brotaram, como a chuva que insistia em cair.
Não consegui entender qual era a relação delas com o tempo.
E aí eu descobri que era saudade.
Porque hoje o céu amanheceu escuro como teus olhos.
Assinar:
Postagens (Atom)